Todos sentimos em nosso cotidiano o impacto da pandemia pelo novo coronavírus.
Diversos campos de nossas vidas foram rapidamente transformados em função da COVID-19. A forma como trabalhamos, consumimos, nos divertimos, educamos nossos filhos, etc.
E claro, as empresas rapidamente entenderam que, para continuar entregando valor aos seus clientes, segundo esse novo paradigma, precisariam também se transformar.
Essa transformação foi sentida, em maior ou menor grau, em diversos setores.
Em poucos, porém, a mudança foi tão radical quanto na saúde. E não haveria de ser diferente, afinal a pandemia trouxe para o foco diversos assuntos, próprios do domínio da saúde (por exemplo: vacinação, imunidade de rebanho, ensaios clínicos, eficácia de tratamentos, efeitos colaterais, etc.).
Para dar conta das demandas apresentadas pela emergência da pandemia, e de tantas expectativas formuladas pelo público, a indústria da saúde precisou se reinventar.
Muito tem mudado em termos de recursos, de modalidades de atendimento e até de modelos de negócio na indústria da saúde.
Aqui, vamos destacar três mudanças particularmente relevantes no cenário brasileiro:
- A aceleração da transformação digital das empresas do ecossistema da saúde;
- O rápido desenvolvimento da telemedicina (com suas consequências, como a evolução do prontuário e da prescrição eletrônicos; e)
- O início da vigência da LGPD que acabou demandando um esforço adicional às organizações e profissionais de saúde, para garantir a aderência à legislação.
Aceleração da transformação digital das empresas
Segundo um estudo da consultoria KPMG, a transformação digital das empresas de saúde deverá ser fortemente acelerada. Pesam aí fatores como a redução de demanda por alguns produtos e serviços em função do foco na COVID-19 (medicamentos de uso continuado, cirurgias eletivas, etc.), um aumento da sinistralidade dos planos no pós-pandemia e o surgimento de novas condições de saúde, como as doenças mentais (em consequência dos longos períodos de isolamento social) ou as sequelas da própria infecção pelo SARS-Cov-2. Como consequência, o quadro que deve se observar é de forte pressão financeira, operacional e assistencial sobre essas empresas.
Entre outros desafios, destaca-se o impedimento ao acesso físico a toda a cadeia, pelo risco do contágio, associado à resistência que, historicamente, os atores do ecossistema apresentam à digitalização do relacionamento. Por necessidade, tecnologias que viabilizem o acesso digital a produtos e serviços para a saúde, de forma integrada e multicanal, devem se desenvolver com grande velocidade: serviços de telemedicina, de atendimento em domicílio, comércio eletrônico de produtos médicos, etc.
Desenvolvimento da telemedicina
A telemedicina não é uma modalidade propriamente nova de atendimento. De fato, a primeira regulamentação sobre o assunto, oferecida pelo Conselho Federal de Medicina, data de 2002. Quase duas décadas depois, em 2019, o mesmo Conselho atualizou a norma, incluindo aspectos que, então, haviam se tornado importantes. Pouco tempo depois, em função de intensa reação de vários setores envolvidos, o órgão regulador volta atrás e cancela a tal atualização da norma.
No ano seguinte, em pleno cenário de aceleração do número de casos e mortes pelo novo coronavírus, foi sancionado um Decreto Presidencial que visa regulamentar a prática, enquanto durar a pandemia.
Nessa esteira, diversas empresas se lançaram à prestação do serviço, em modelos variados que, em comum, têm a característica de propiciar acesso seguro a diagnósticos e tratamentos com profissionais de saúde que estão, por vezes, a quilômetros de distância.
Início da vigência da LGPD
Embora sem relação direta com a evolução da pandemia, uma coincidência temporal acabou trazendo o início da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados para o radar dos diferentes atores do ecossistema da saúde, justamente numa época de maior demanda histórica desse setor.
Por mais que assuntos como sigilo e confidencialidade, guarda, posse e portabilidade da informação, etc. já fizessem parte do dia a dia dessas empresas e profissionais, é certo que a vigência do novo regulamento trouxe impactos ao setor de saúde.
A indústria da saúde está vivendo um tempo de muitas e profundas transformações.
Novos atores, novas modalidades de atendimento, novos regulamentos e novos modelos de negócio já são hoje realidade.
Ainda ficam no ar muitas questões. A transformação veio para ficar? O ecossistema se tornará melhor para nós, os indivíduos? Que outras mudanças o futuro reserva? É esperar para ver.